domingo, 4 de maio de 2008

A HISTÓRIA DE MOZART


A dramaturga inglesa Enid Bagnold certa vez perguntou a uma feminista que conselho ela daria a uma dona de casa de 23 anos de idade que, tendo perdido quatro filhos, se visse grávida outra vez de um marido alcoólatra e violento.

--Eu insistiria para que ela interrompesse a gravidez - respondeu a feminista.

--Neste caso - disse a sra. Bagnold --, você teria abortado Beethoven.

Os fatos que relatava não estavam completamente certos.

Apenas duas dessas crianças falecidas nasceram antes do pequeno Ludwig - uma delas fruto de um casamento anterior - e não há comprovação de que Johann van Beethoven tenha alguma vez batido em sua mulher.

Mas com certeza foi um pai cruel, e há registro de seu alcoolismo em tribunais de Bonn.

A situação é a mesma em relação à sua crônica falta de dinheiro, embora Johann fosse não só cantor assalariado no grupo do eleitor de Colônia, mas também filho e herdeiro do Kappelmeister Ludwig van Beethoven, um próspero mestre de música aposentado, cujo apartamento de seis cômodos em Rheingasse brilhava com sua prata e cristal fino.
Maria Magdalena van Beethoven deu à luz mais dois filhos que sobreviveram: Caspar Carl e Nikolaus Johann.

Em seguida, ela gerou outro filho e duas filhas, os quais faleceram logo em seguida.

Seu último parto a deixou deprimida e frágil, condenada a morrer aos 40 anos, de tuberculose. Esbelta, com olhos graves, moralista, gentil, flutua como uma aquarela desbotada no álbum da família van Beethoven, no meio de imagens mais vigorosas de homens bem corados e de compleição robusta.

Esses Beethoven burgueses pareciam mais holandeses do que alemães, assinavam van em vez de von, atribuíam-se ascendentes nobres nos Países Baixos (nos arredores da cidade medieval flamenga de Betouwe) e em meados do século XVIII estavam estabelecidos nos arredores de Bonn, capital administrativa do eleitorado de Colônia - alemães na cultura, de religião católica romana e cidadãos da província do Reno em seu gosto pelas uvas.
Ludwig nasceu na cidade, na Bonngasse 515, no dia 16 de dezembro de 1770, ou em torno dessa data, que não é definida com precisão.

No entanto, as paróquias católicas dessa época exigiam que os recém-nascidos fossem trazidos à pia batismal dentro de 24 horas, e no dia 17 de dezembro foi registrado seu batismo na igreja de São Remigius.

O registro, em latim, o identifica como "Ludovicus" - uma forma solene de seu nome, da qual acabou gostando mais tarde, após ter aprendido sobre a grandeza de Roma.

Tampouco, se importava em ser chamado de "Louis", em vista da gloire de La France.
Também tinha prazer em saber que o velho Ludwig patrocinou seu batismo. Isso o fez afilhado e neto do músico mais eminente de Bonn.

Os mesmos olhos escuros que o olharam na pia batismal se fixariam nele novamente, pintados a óleo, mas ainda assim cheios de vida quando ele jazia em seu leito de morte.
*
"Beethoven"Autor: Edmund Norris

Nenhum comentário: